terça-feira, novembro 16, 2004

italo calvino- contra a prostituição da palavra "amor".

"(...)A parte inferior do quadro era ocupada por uma legenda comprida, em densas linhas de uma escrita curva e angulosa, branco sobre negro. Ali eram celebradas devotamente vida e morte das duas persongens, que tinham sido o capelão e a abadessa do convento (ela de familia nobre lá entrara como condessa aos dezoito anos). A razão pela qual achavam-se retratados juntos era o extraodinário amor ( a palavra pia na prosa espanhola vinha carregado do halo ultraterreno) que havia unido por trinta anos a abadessa e seu confessor, um amor( a palavra na sua acepção espiritual sublimava mas não cancelava a emoção corpórea) tal que, ao morrer o padre , a abadessa , vinte anos mais jovem, no intervalo de um dia adoecera e , literalmente, havia expirado por amor( a palavra queimava como uma verdade em que todos os significados convergem) para reencotra-lo no céu."
extraido do conto Sob o sol-Jaguar de Italo Calvino.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A.

por acaso tem a ver com Heloísa e Abelardo?? pergunta só pra puxar assunto, pq não é necessário o sentido denotativo para que uma coisa tenha 'acontecido' - aí reside a infelicidade dos fundamentalistas: achar que TUDO aconteceu ao pé da letra! matam o sentido de cara! poderia ser Tersa e Juan de la Cruz, poderia ser qualquer outra dupla -
será que o amor ousa dizer seu nome nos confessionários??

17 de novembro de 2004 às 11:15  
Blogger a said...

acho que isso foi uma tentativa de salvar a palavra "amor" da significação vulgar que ela ganhou hoje em dia...acho que é dificil falar de amor sem ser redundante ou confundi-lo com o amor dos comécias de margarinas ou o das novelas. Acho que nesse trecho o italo foi forçado a mostrar à força o significado do termo para não cair na redundancia de um amor pré-fabricado.

17 de novembro de 2004 às 18:19  
Blogger a said...

falando em redundancia... "ser forçado a fazer alguma coisa à força' é foda!

17 de novembro de 2004 às 18:27  
Anonymous Anônimo said...

também acho f###, mas nesta vida se faz tanta coisa por obrigação! mas... não é disso que vim falar, mas de seu comment: assisiti ao TEOREMA de Pasolini, me marcou muito e até mudou certos rumos de minha vida - fiquei PASMA com a linguagem e o desfecho/ sem falar que sempre AMEI Pasolini - me identifico muito com esse outro SUICIDADO pela sociedade/
a libertação pelo sexo, coisa a se fazer e não pensar/hehe/ mas, já dizia Manoel Bandeira: 'não queremos mais lirismo que não seja libertação' - ou CDA, 'sejamos docemente pornográficos'...
ontem jabor lembrava em artigo que a 'libertação' virou doença e depravação -
- falar nisso, as escuras águas do Rio Negro andam sendo usadas para turismo sexual, com menores / hediondo!
de qualquer forma, da 'liberação', sobrou rebarba pra todo lado, o mundo nunca mais será o mesmo
vou deixar mais HILDA HILST pra vc!
bjs, grata, tekka

18 de novembro de 2004 às 16:18  
Blogger a said...

Ter liberdade sexual é muito facil. O desafio creio, é ser livre para vivenciar na totalidadee todas as relações fulgazes que a modernidade pode oferecer, sem se prender às antigas formulas(casamentos por conveniencia ou paixões cinematograficas), sem perder a noção de cuidado e respeito com o outro. Não ver o sexo como uma mais uma das práticas consumistas de nossos tempos,saber associar a alma e a animalidade, tudo isso, em relaçoes simétricas.

21 de novembro de 2004 às 10:12  

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