quarta-feira, dezembro 08, 2004

palpebras de vidro

Roçam no céu de minha boca palavra proibidas: depositar estrelas de vidro em teu ventre, invólocro de estrelas! de douradas estrelas que pulsam nas vidraças embaçadas do azul de noite gelada. Depositar estrelas na pele de tuas noturnas palpebras!
/////////////////////////////////////////////////////for D.(ouvindo death cab (for cutie)
  • escrita papel, escrita na pele
  • domingo, novembro 28, 2004

    fernando pessoa

    Litania

    "Nós nunca nos realizamos.
    Somos dois abismos – um poço fitando o Céu."


    o livro dos desassossegos_ fernando Pessoa


  • escrita papel, escrita na pele
  • Meu gerreiro subterraneo

    Meu guerreiro subterrâneo lançou-se para a morte! Queria o beijo da Valkíria que desceria docemente do céu sobre o campo de batalha. Disse-me sorrindo, que ela viria trazendo nos seios o leite do alivio e que lançaria sua alma no mar, onde adormecem as almas de todos os guerreiros. O mesmo mar onde dormiriam seus inimigos. Disse-me que ela traria rosas em sua boca e doces cânticos. Viria de seios nus para sugar de seu corpo a alma, lançá-la no oceano de todos os guerreiros. Meu guerreiro subterrâneo lançou-se sorridente para a morte!
    Artur.

  • escrita papel, escrita na pele
  • quarta-feira, novembro 24, 2004

    she going to break your heart in two

    Velvet Underground
    Femme Fatale
    Composição: Desconhecido


    Velvet Underground
    Femme Fatale
    Composição: Desconhecido
    Here she comes,
    you better watch your step
    She's going to break your heart in two,
    it's true
    It's not hard to realize
    Just look into her false colored eyes
    She builds you up to just put you down,
    what a clown'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
    The things she does to please (She's a femme fatale)
    She's just a little tease (She's a femme fatale)
    See the way she walks
    Hear the way she talks
    You're put down in her book
    You're number 37, have a look
    She's going to smile to make you frown,
    what a clownLittle boy,
    she's from the streetBefore you start,
    you're already beat
    She's gonna play you for a fool,
    yes it's true
    'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
    The things she does to please (She's a femme fatale)
    She's just a little tease (She's a femme fatale)
    See the way she walksHear the way she talks
  • escrita papel, escrita na pele
  • terça-feira, novembro 23, 2004

    e(c)lipse Lunar

    E(c)lipse Lunar.

    A noite de sonhos na pedra congelada.
    O desejo petrificado em retorno eterno,
    Encarcerado em sua Orbita elíptica.

    O toque paralisado no instante de sê-lo.
    A noite despetalada, sem perfume, em pedra.

    O retorno do retorno do retorno.

    A noite paralisada na órbita de pedra,
    Congelada no tocar de um sonho.

    A flor em gelo concretizada,
    Em concreto, sem perfume, congelada,
    Na orbita infinita do desejo.
    Artur


    uma rosa é uma rosa é uma rosa...
    Gertrud Stein
  • escrita papel, escrita na pele
  • ostrakon

    Me perguntaste, um dia, se eu tinha medo da plenitude e esbouçaste um sorriso irônico.
    Hoje te respondo: Sim, eu tenho medo da plenitude!
    Por isso não possuo abrigos. A plenitude me mete medo!
    Temo a plenitude do caminho perfeito, vendida em qualquer esquina,
    a plenitude das verdades e das vidas entre ferros, a preço de dizimos e subserviencia,
    a plenitude de propagandas, de alegrias auto-complacentes, de amores perfeitos de sabao-em-pó e programas de auditório, das ataraxias infinitas de blockbusters pornograficos, da satisfação da necessidades inventadas, da felicidade artificial.
    Por isso habito as ruas e as esquinas, por isso prefiro meu canto em comunhao aos dos proscritos. E rogo pela plenitude dos silvestres.
    Pois é nos palcos onde onde anunciam as peças do sublime , que defila sempre, para os meus olhos, a anilmalidade,
    Não moro mais na casa das crenças pueris e carrego o fardo de opções, aos olhos do mundo, insanas.
    Por isso me desgarro do rebanho e por escolha nao ouso esmagar com o calcanhar as serpentes,
    gosto de vê-las sem mimetismos , dançando e destilando seus venenos, (é preciso ter venenos pra nao usar mimetismos!).
    Por isso nego a tua plenitude, nego qulalquer palavra que me afaste de mim mesmo. E rogo a Pã, que volte, um dia, triunfante aos bosques!
    artur
  • escrita papel, escrita na pele
  • das tres transformações-nietzsche

    Das Três Transformações
    “Três transformações do espírito vos menciono: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança. Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, respeitável. A força deste espírito está bradando por coisas pesadas, e das mais pesadas. Há o quer que seja pesado? – pergunta o espírito sólido. E ajoelha-se como camelo e quer que o carreguem bem. Que há mais pesado, heróis – pergunta o espírito sólido – a fim de eu o deitar sobre mim, para que a minha forca se recreie? Não será rebaixarmo-nos para o nosso orgulho padecer? Deixar brilhar a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez? Ou será separarmo-nos da nossa causa quando ela celebra a sua vitória? Escalar altos montes para tentar o que nos tenta? Ou será sustentarmo-nos com bolotas e erva do conhecimento e padecer fome na alma por causa da verdade? Ou será estar enfermo e despedir a consoladores e travar amizade com surdos que nunca ouvem o que queremos? Ou será submerjirmo-nos em água suja quando é a água da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os quentes sapos? Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma quando nos quer assustar? O espírito sólido sobrecarrega-se de todas estas coisas pesadíssimas; e à semelhança do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto. No deserto mais solitário, porém, se efetua a segunda transformação: o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade e ser senhor no seu próprio deserto. Procura então o seu último senhor, quer ser seu inimigo e de seus dias; quer lutar pela vitória com o grande dragão. Qual é o grande dragão a que o espírito já não quer chamar Deus, nem senhor? “Tu deves”, assim se chama o grande dragão; mas o espírito do leão diz: “Eu quero”. O “tu deves” está postado no seu caminho, como animal escamoso de áureo fulgor; e em cada uma das suas escamas brilha em douradas letras: “Tu deves!” Valores milenários brilham nessas escamas, e o mais poderoso de todos os dragões fala assim: “Em mim brilha o valor de todas as coisas”. “Todos os valores foram já criados, e eu sou todos os valores criados. Para o futuro não deve existir o “eu quero!” Assim falou o dragão. Meus irmãos, que falta faz o leão no espírito? Não bastará a besta de carga que abdica e venera? Criar valores novos é coisa que o leão ainda não pode; mas criar uma liberdade para a nova criação, isso pode-o o poder do leão. Para criar a liberdade e um santo NÃO, mesmo perante o dever; para isso, meus irmãos, é preciso o leão. Conquistar o direito de criar novos valores é a mais terrível apropriação aos olhos de um espírito sólido e respeitoso. Para ele isto é uma verdadeira rapina e coisa própria de um animal rapace. Como o mais santo, amou em seu tempo o “tu deves” e agora tem que ver a ilusão e arbitrariedade até no mais santo, a fim de conquistar a liberdade à custa do seu amor. É preciso um leão para esse feito. Dizei-me, porém, irmãos: que poderá a criança fazer que não haja podido fazer o leão? Para que será preciso que o altivo leão se mude em criança? A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação. Sim; para o jogo da criação, meus irmãos, é preciso uma santa afirmação: o espírito quer agora a sua vontade, o que perdeu o mundo quer alcançar o seu mundo. Três transformações do espírito vos mencionei: como o espírito se transformava em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança”.
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  • segunda-feira, novembro 22, 2004

    noticias

    Se por acaso perguntasse como ando. Diria que estou bem! Sigo vivendo. Como sempre, entre uns momentos de epifania e outros de estranhamento. Diria que tombou aquela velha ordem mundial e que muito do que me assombrava hoje ja não me importa. Diria que apesar de ter a lança na mão fiz as pazes com alguns de meus moinhos.
    artur
  • escrita papel, escrita na pele
  • domingo, novembro 21, 2004

    um outono

    As folhas que eram brancas envelheceram, assim como todo os cantos da casa. Os móveis não estão mais no mesmo lugar. O velho cão foi pra floresta no fim da tarde, foi morrer sozinho. Seriam os vapores vindos do litoral?Seria a terra da desesperança? Fizemos provisões, mas a noite foi maior... tentamos avistar o outro lado, fantasiamos ilhas invisíveis. Mas não há, nem outro lado, nem ilhas invisíveis! Nada acalma o medo que temos da travessia.
    artur
  • escrita papel, escrita na pele
  • sexta-feira, novembro 19, 2004

    sutra da serenidade

    As mais poderosas tormentas, quando vistas da serenidade da janela de nossas casas, soam sempre como música. Que engraçado, assim também é nossa alma! Precisamos aprender a criar algum abrigo dentro dela, para esperar a escuridão passar, apreciando a beleza furiosa dessas tempestades.
    artur
  • escrita papel, escrita na pele
  • baudelaire e florbela estão mortos!

    O heuatontimourumenos
    Baudelaire
    Sem colera hei de te atacar
    Como um carniceiro e sem ódio!
    Como o fez Moisés no episódio
    do rochedo _ e de teu olhar,

    Ha de beber o meu Saara,
    A agua do sofrimento mansa.
    Meu sonho cheio de esperança
    no teu pranto nadará!

    E como uma nave que ao mar larga,
    E em meu ébrio coração
    teus soluços ressoarão
    Como tambor rufando à carga!

    Pois eu não sou um falso acorde
    Nesta divina sinfonia
    Graças à voraz Ironia
    que me sacode e que me morde?

    Ela em minha voz vocifera!
    Todo o meu sangue é este veneno!
    Eu sou espelho tão terreno
    Em que se contempla a megera!

    Eu sou a chaga e o punhal!
    Eu sou o rosto e a bofetada
    A roda e a carne lacerada,
    Carrasco e vitima afinal,

    Sou o vampiro de meu coração,
    _ Um desses mais abandonados
    Ao riso eterno condenado

    E que nunca mais sorrirão.

  • escrita papel, escrita na pele
  • florbela

    Crepúsculo

    Teus olhos, Borboletas de oiro, ardentes.
    Borboleta de sol de asas magoadas
    Poisam nos meus suaves e cansadas,
    Como em dois lírios roxos e dolentes

    E os lírios se fecham,
    Meu amor... não sentes?Minha boca tem rosas demasiadas(...)
    Florbela Espanca
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