sábado, novembro 13, 2004

nunca me disseram

NUNCA me disseram e nunca me diriam o que estava errado! Isso é algo que se percebe apenas pelas frestas que se abrem por segundo na indisplicência momentânea das faces. Tento me atrever a lançar hipóteses: Teria dito verdades demais? Teria sido sincero demais? Ingênuo demais? Teria esperado coisas demais? Sim! Isso! Além de todas as outra hipóteses, sobretudo, foi isso! Eu sei, sempre esperei coisas demais. Quando me davam dedos eu me agarrava ao corpo, quando me deixavam ver através de cortinas eu arrombava paredes. E no que resultou? Todos fecharam as suas janelas deixando-me aqui, do lado de fora, com a imensa sensação de ter dado a vida toda vexame, sendo sempre o último a saber. Como disse Cartola, “o mundo é um moinho”, e ele destrói os nossos sonhos mais mesquinhos a cada esquina. É que na verdade, a nossa mesquinhez se fantasia de sonhos e a repudia ao nosso egoísmo não nos deixa ver que os outros sempre serão esferas veladas, distantes, refugiadas em si dos planos mais altruístas que se forjam no egocentrismo de nossos corações.
Eu, que sempre acreditei que pudesse encontrar no outro um abrigo, saí por aí oferecendo meu colo, que no desespero de ser amado fui sempre o primeiro a gritar que amava, concluí que o mundo era de pedra e nele tudo que não fosse pedra era delírio.
Restava-me escolher, ou delírio ou a pedra. Ambas as opções eram indiferentes: Se escolhesse o delírio, meus pés, guiados por um corpo cego, se cortariam nas pedras. Se escolhesse as pedras, a ausência das nuvens dos sonhos tornariam meus caminhos mais árduos ainda. Era tudo, ou nada, ou me fechava, ou me abria.
O dever da escolha sempre me revoltou, mais uma vez então me revoltei, e rompi com o dever. A revolta me fez inventar um novo e, “só meu caminho”.Tinha descoberto a solução: Iria trilhar o caminho de pedras numa busca sagaz, pelo cálice sagrado de meus sagrados delírios! Eureca! Mas, derrepente a matemática ironia das coisas, ou a irônica matemática das coisas, fez com que minha sagacidade de guerreiro se transformasse diante de meus olhos na mais pura e cega pilhagem bárbara. Fui uma criança egoísta que gritava a todo instante: Eu quero! Eu quero!Me dá! Não importavam as conseqüências, não importava, mais uma vez o outro.
Ah! Perdi o bonde da esperança, volto pálido para casa! Onde foi parar o sossego, e a paz? Qual foi a lição de casa que perdi, devorada por um cachorro qualquer? Será que amadureci? O amadurecer para mim sempre suou como a morte dos sonhos. Desaprendi, creio que com a maturidade ou com a morte dos sonhos, sei lá! Desaprendi a inestimável capacidade que toda criança tem de amar sem saber que ama, de estar junto sem saber porquê, de ser levado pelas coisas, sem nem chegar a se dar conta de que elas acontecem. Desaprendi, ou desaprenderam todos?... Eu não sei!
artur

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

vc só poderia PERDER o BONDE, uma vez que estava FORA DOS TRILHOS: de-lirar= fora dos trilhos ...
ah, sim, pra vc: A BELEZA É DIFÍCIL, YEATS, disse Audrey Berdsley, quando Yeats lhe perguntou porque ele desenhava horrores / Ezra Pound, Canto LXXX, citado em A BELEZA DIFÍCIL de Gerard Manley Hopkins...
será que, incapazes de produzir BELEZA, só nos reste Bedslam, Bush e sua Condoleeza? A BELEZA É DIFÍCIL - deixo esse mote pra vc!
bj, Tekka

17 de novembro de 2004 às 18:00  
Blogger a said...

Tekka, "se lhe restarem apenas duas moedas... com uma compre um pão e com a outra compre uma flor!"* A beleza é essencial... mas ela não é dificil... pode ser comprada com uma moeda! e pode ser colhida em cada campo!
*ditado chines ou arabe, naso estou bem certo.

18 de novembro de 2004 às 19:28  

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