sábado, novembro 13, 2004

enigma


Às vezes, nos momentos em que deixo a mente vagar livremente, gosto de pensar sobre as palavras. Imagino, por exemplo, cada palavra como uma fibra disforme de algodão, daquelas que parecem ser mais leves e frágeis que o próprio ar. As palavras são prenhes da matéria das significações, assim como o são da matéria do tecido, as leves fibras de algodão. Penso em quantos significados diferentes e quantas diferentes sensações podem ser gestados, por exemplo, pela palavra “rosa”. Imagino que faltam ainda às palavras solitárias e às disformes fibras, os sentidos de significação e de tecido. E, na minha mente, ambos só adquirem um pequeno sentido, quando uma tecelã imaginária, com seus dedos, delicadamente junta duas ou mais fibras e as enrola num pequeno feixe de palavras/fibras, que gosto de chamar de “idéia”. É quando a palavra, que era prenhe de inúmeras possibilidades de desdobramento, retira os véu de significados mortos, e mostra a verdadeira face que usará.
Imagino nossa paciente tecelã a continuar o seu trabalho. Ela enrola vários desses pequenos feixes em macias linhas de pensamento, guardando-as uma a uma, depois de tingi-las, em multicoloridos fusos. Esses fusos são postos em um grande tear para criarem a mais organizada e bela de todas as tramas de significações que é a mente. Mas o trabalho da tessitura não para por aí. Incansavelmente a tecelã junta com a linguagem os remendo de vários tecidos, trançando as suas linhas até haver uma grande e única trama de significados. É quando, na minha imaginação me pergunto: Haveria sentido falar de vários remendos ao invés de uma única trama? Sou eu teço o texto ou é ele que me tece?
artur

6 Comments:

Blogger a said...

Tudo em tudo
Cada Homem em todos os homens
Todos os homens em cada homem

Todos os seres em cada ser
Cada ser em todos os seres

Todos em cada um
Cada um em todos
Toda distinção é mente, pela frente na mente da mente
Sem distinção não há mente para distinguir.
R.D. Laing

13 de novembro de 2004 às 06:06  
Anonymous Anônimo said...

engraçado, tou lendo RAZÃO E VIOLÊNCIA de Laing e Cooper, aí o fone toca, amiga minha dizendo que vai suicidar - pergunto a ela que tipo de morte prefere: tiro, faca, veneno? recomendo pra não dar vexame com lxotan, pois além de não morrer, paga o maior mico...me ofereci para ajudar a 'escolher as armas' ... tá cansada da p*** deste mundo, que fracassou... mas, no fundo no fundo, se neste momento ela tivesse ganho a grana que esperou e não deu certo, não estava querendo morrer/ dái pq não dou a menor quando escuto isso de pessoa que conheço: o motivo é às vezes banal. a VIDA É BANAL, e a gente gostaria que ela fosse GRANDIOSA - E NOS REFUGIAMOS NA TV ! p**** assim, é m**** mesmo!

A VIDA SÓ É DURA PARA QUEM DÁ MOLE, como filosofa amiga minha / brincadeira, A BELEZA É QUE É DIFÍCL!

Tekka

17 de novembro de 2004 às 18:13  
Anonymous Anônimo said...

o melhor é não ver
tudo o que te rodeia.
é inútil pensar
que encontrando ouro
na bateia
alegrarás o olhar.

o melhor é não ver
o aço que cerceia.
é inútil sonhar
que desfazendo o fio
da tua teia
há de ser livre o teu andar.

Hilda Hilst, deixado aqui por mim ...
Tekka

18 de novembro de 2004 às 16:40  
Blogger a said...

lindo tekka... como tudo que tenho recebido de vc, é relamente lindo.Uma pessoa muito especial me apresentou HH, não aguentei a angustia de "Senhora D".(ou algo assim). Belo e angustiante! Mas, que obra sincera, vinda do coração humano não é angustiante nos dias de hj?
//
"e te queres matar, porque não te matas?"

fernando Pessoa
tente responder a essa pergunta sinceramente:
filhos?
familia?
planos?
pra ver o fim de tudo?
por causa da ruiva (ou ruivo), que c ainda não beijou?
pra pagar a ultima prestação da casa propria?
reponda esa pergunta,e o que vc terá como resposta é o sentido de sua existencia, as bases nas quais ela está fundamentada.
sugiro Victor Frankl Em busca de Sentido.

19 de novembro de 2004 às 07:13  
Anonymous Anônimo said...

não busco mais SENTIDO, só SENTIR - aliás, quem faz sentido é soldado / leminski /
vou reler Frankl, mas, realmente, que interessa saber o sentido da vida? é um ofício que, segundo Emily Dickinson, não deixa lugar pra outra ocupação!

f.d.s. / tekka

19 de novembro de 2004 às 19:30  
Blogger a said...

Come chocolates pequena!
come chocolates
olha que não ha mais metafísica que chocolates,
olha que as religiões não ensinam mais que chocolates." F. Pesssoa
ou , como eu num bar de rock de Mao prum amigo existenxatista, que veio cum esses papos pra cima de mim.
" Tome chopps pequeno ****
tome chopps!"

20 de novembro de 2004 às 06:33  

Postar um comentário

<< Home